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Foto do escritorAndréa Caroli

Dica de filme - Minha Vida de Abobrinha




O filme Minha Vida de Abobrinha, nome original Ma Vie De Courgette, aborda temas sérios como o luto, o abandono, a negligência, o abuso infantil, a violência doméstica, o uso de drogas e álcool, questões sociais como pobreza e imigrantes ilegais, a adoção tardia, as descobertas da sexualidade, entre outros assuntos, através das sutilezas dos diálogos entre os personagens.


Propositadamente e com muita sensibilidade, o filme tira da invisibilidade os que vivem em abrigos, ao expor situações de desamparo, traumas, emoções, e a busca sofrida por novos laços afetivos dessas crianças.


Aqui no Brasil, o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) criado em 2019, informa que temos 5.225 crianças aguardando adoção, 3116 em processo de adoção e 4.415 em serviços de acolhimento (fonte: https://www.cnj.jus.br/ de 27/06/20). A procura é em sua maioria por crianças mais novas, com até 3 anos de idade, caindo significativamente para crianças com mais de 9 anos.


Retornando ao filme, Abobrinha é um menino que tem apelido de legume, vive solitário no sótão, gosta de desenhar e colorir, soltar pipa, guardar e brincar com latas vazias de cerveja. Foi criado num ambiente disfuncional, sem saber o motivo pelo qual o pai abandonou a família, e por mãe depressiva, desleixada, amargurada e alcóolatra que não consegue assegurar um ambiente que atenda as necessidades básicas do mesmo. Até que com a morte da mãe, vira órfão de vez e vai para um abrigo.


Simon, o menino chefão e valentão que se transforma ao longo da trama, é quem descreve para o Abobrinha a vivência traumática e as consequências na vida de cada criança do abrigo. Num diálogo próximo e normativo afirma “Todos somos iguais. Não temos mais ninguém para nos amar”.


O filme é repleto de simbolismos, desde os desenhos e as brincadeiras, como formas de suprir as faltas da vida real. Até os mais explícitos objetos guardados por Abobrinha como, por exemplo, a lata de cerveja vazia, que remete a mãe frágil, e a pipa com o desenho do super-herói, que simboliza o pai idealizado, mas ao mesmo tempo distante. Ambos objetos vão sendo ressignificados através das relações vividas no abrigo. Mas não para por aí, há em diversas sutilezas e gestos de muita representatividade a serem explorados.


Com uma sensibilidade ímpar as emoções são reveladas nos olhares expressivos das crianças, a solidão e a raiva do abandono, a tristeza do luto, as lágrimas de alegria, e até a esperança de ter um lar novamente.


No ninho do passarinho, há no meu ver, uma mensagem inspiradora e muito importante sobre a necessidade de um ambiente seguro e estruturado para todas as crianças.

Por isso, dificilmente você assistirá esse filme sem que ressoe em você o sofrimento infantil que está por aí, quer no lar ou em abrigos, sem se afetar por essa realidade dolorosa, e principalmente pela esperança na construção genuína de novos laços afetivos, na aceitação incondicional, na compaixão e no amor.


É um filme reflexivo que nos traz a necessidade de olhar para a vida de uma outra forma. Vale a pena assistir!

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